Nos dias 29 e 30 de maio de 2019, foi realizada na
aldeia Jatequara, margem esquerda do rio Tapajós, a Assembleia Indígena Tupinambá, que reuniu os indígenas de
19 aldeias do território Tupinambá do Baixo Tapajós. Localizada na Reserva
Extrativista Tapajós-Arapiuns, o território indígena Tupinambá é considerado o
de maior território na região e conta com as respectivas aldeias:
Jacaré
Jaca
Paraná pixuna
Jatequara
Jauarituba
Santo Amaro
Mirixituba
Muratuba
Paricatuba
São Pedro
São Francisco
São Caetano
Enseada do Amorim
Cabeceira do Amorim
Boa Sorte
Pajurá
LimãoTuba
Brinco de Moça
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Apresentação das lideranças indígenas presentes na assembleia |
A necessidade de chamamento para que todos
participassem e se posicionassem devido às atuais conjunturas do governo foi um
dos marcos centrais da assembleia, que discutiu pautas como a autodemarcação do
território, saúde e educação indígena, eleição para o CITUPI (Conselho Indígena
Tupinambá) e para o Conselho Fiscal, além da aprovação para o desenvolvimento
de pesquisas antropológicas a serem desenvolvidas naquele território. Havia grande empolgação com o evento, principalmente da parte dos moradores de Jatequara (visto que era a primeira vez que recebiam um acontecimento desse porte e porque apenas recentemente aderiram ao movimento indígena), porque reuniria aldeados indígenas e suas lideranças. Prova disso se demonstrava em todo o empenho do Conselho, do cacique Edelson e do pajé Salustiano, que se expressou em Nheengatu com os presentes.
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Momento inicial da assembleia |
Depois do ritual de abertura, o cacique Braz
Antônio Tupinambá, diretor do CITUPI, inicia a apresentação da mesa com a
composição feita pelos representantes do CITA (Conselho Indígena
Tapajós-Arapiuns), da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e da SEMED (Secretaria
Municipal de Educação). De início, as discussões abertas circularam em torno da
educação e da saúde indígenas, visto que as constantes ameaças de corte
vigentes pelo governo federal afetam diretamente as populações indígenas,
principalmente quando lembramos das primeiras ações do governo federal desde a
posse em janeiro de 2019.
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Aldeados atentos às decisões do território |
Educação escolar indígena
Das reivindicações sobre a educação escolar indígena, unir conhecimentos
locais com o conhecimento científico a partir da perspectiva local permeia o
principal foco da educação formal nas aldeias. O questionamento do tipo de
educação que está sendo dada a crianças indígenas e se ele corresponde às
expectativas ainda é preocupante, visto que o município ainda deixa a desejar
no atendimento às necessidades, ao repasse de recursos e ao cumprimento de um
currículo que abranja os saberes do povo. Além disso, a precariedade do
transporte escolar fez com que as aldeias solicitassem a abertura de anexos,
visando principalmente a segurança das crianças.
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Diretora da escola indígena Suraitá |
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Professora Emília, de Nheengatu |
A entrada e permanência de alunos indígenas na universidade foi outra
pauta, visto que os cortes contingenciais na área educacional ameaçam a
previsibilidade dos alunos indígenas de concluírem seus cursos. Dentro disso, a
disseminação de uma política discriminatória quanto aos indígenas e das demais
minorias vêm se alastrando dentro dos campi, levando à reflexão de quais
medidas deverão ser tomadas, assim como a permanência dentro do ensino superior
mostra cada vez mais a resistência indígena.
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Jovens universitários Tupinambá |
Eleição do CITUPI
Em uma acirrada disputa, foi realizada no dia 30 a
eleição para o Conselho Indígena Tupinambá, sendo reeleito o cacique Braz
Antônio de Moraes, da Aldeia São Francisco, e na vice direção o cacique Océlio,
da aldeia Muratuba, assim como o restante do conselho, composto de duas
secretárias e dois tesoureiros. Também houve a votação para o Conselho Fiscal,
com três membros efetivos e três substitutos.
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Momento de indicação dos candidatos à direção do CITUPI |
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Momento da votação |
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"Eleição de índio não é igual eleição de branco |
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Momento de contagem dos votos |
Participação
da FUNAI, CITA e GCI
A presença do representante da FUNAI foi crucial na
assembleia, visto que foram compartilhadas as dificuldades do órgão com a
assembleia. Geraldo Dias ressaltou que o desmonte da FUNAI já vem sendo
realizado a pelo menos dez anos já com a diminuição do repasse de verbas.
Entretanto, as "péssimas escolhas" desde a última eleição, montaram
um Executivo e um Legislativo arbitrários e sem considerar a relevância das
minorias, na qual despreza a opinião dos povos tradicionais.
O Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) também
esteve conversando com a juventude indígena presente na assembleia. Anderson
Castro reforçou a importância do fortalecimento da identidade indígena, tanto
dentro quanto fora das as aldeias, e que isso promove a alteridade do povo
Tupinambá.
Representando o GCI (Grupo de Consciência Indígena) esteve o Prof. Dr. Frei Florêncio Vaz, que veio com contribuições muito interessantes que acrescentam conhecimento ao movimento Tupinambá, demonstrando o quanto o grupo pode fazer para acrescentar mais esclarecimentos sobre a formação indígena nas aldeias..
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Momento da participação da FUNAI na assembleia |
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Momento vespertino da assembleia |
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Presença do Prof. Dr. Florêncio Vaz |
Protocolo
de Consulta Prévia
No último dia de assembleia, fora entregue aos
aldeados o Protocolo de Consulta Prévia do Povo Tupinambá, documento que reúne
as decisões, anseios, petições e a necessidade do respeito ao povo e seu
território. O Protocolo é uma conquista das 19 aldeias, visto que é uma luta
que se estende desde a década passada, e precisa resistir às dificuldades
internas, políticas e demarcatórias. Mas também é necessário frisar que o
movimento de identidade e autoafirmação precisam ser fortalecidos, para que o
movimento indígena não imploda, causando o enfraquecimento do movimento.
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Material produzido pelas aldeias com seus parceiros, como MPF e Manos Unidas |
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Expectativa da entrega do Protocolo Prévio |
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Leitura do texto presente no Protocolo de Consulta Prévia |
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Entrega do material de Nheengatu aos representantes dos professores de cada aldeia |
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Momento de consulta e autorização de pesquisa no território Tupinambá |
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Momento de aprovação e receptividade de Marcílio Serrão como indígena Tupinambá |
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Entrega de material de Nheengatu aos representantes dos professores das aldeias |
A importância da autoafirmação da
identidade indígena
Tão importante quanto a autodemarcação do
território é o povo Tupinambá assumir inteiramente sua identidade indígena. Mesmo
se denotarmos a presença de conflitualidades internas, o ideal é que todas as
partes interajam de forma a pensarem em um movimento único, com a resolução de
problemas internos para que façam frente às dificuldades do plano mais
generalizado, envolvendo as esferas federal e local. Trata-se de explorar o
diálogo e identificar os problemas e chegar ao mesmo objetivo de potencializar a luta do movimento indígena.
GALERIA DE FOTOS (Confira mais momentos na nossa página no Facebook)
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Pajé da aldeia São Francisco |
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Pajé Ronaldo Guimarães, da aldeia Paraná Pixuna |
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Chegada de aldeias a Jatequara para participar da assembleia |
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"Vai chuvê!" |
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Cacique Joel, da aldeia São Caetano |
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Cacique Inácio Rodrigues, da aldeia Jacaré |
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Ester Oliveira, ex-cacica da aldeia Paraná Pixuna |
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Ritual de recepção do indígena Marcílio Serrão |
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Pajé Salustiano fazendo a benzeção em uma jovem com dor nas costas |
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Pajé Salustiano, da aldeia Jatequara, contando sobre como se descobriu pajé |
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Despedida de Jatequara |
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Peixe, farinha e uma boa conversa no retorno à Santarém |
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Crianças da aldeia Jatequara |
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Momento vespertino da assembleia |
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Curumins conectados |
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Assembleia presente |
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Momento do grafismo indígena |
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Ritual de benção para as lideranças eleitas |
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Amanhecer em Jatequara |
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Café da manhã na casa do Pajé Salustiano |
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Assembleia presente |
* Lídia Sarmento é voluntária do projeto de extensão A Hora do Xibé. Lucas Marinho é indígena, estudante da Universidade Federal do Oeste do Pará, da aldeia de Santo Amaro, do território Tupinambá. Florêncio Vaz é professor, doutor em Antropologia e coordenador do projeto de Extensão "A Hora do Xibé".
Imagens: Lídia Sarmento e João Roberto Sarmento
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